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Mostrando postagens de abril, 2013

Paródia Plausível de Uma Mentira Sincera

Ninguém tem pena das pessoas Tristes. Mas ora essa, ter pena delas pra que? Adoram suas angústias, inseguranças, dúvidas existenciais dilacerantes mas apesar disso tudo é justamente isso que não funciona na nossa sociedade. As pessoas com problemas são sempre mais desinteressantes. Já, os tontos, não tem interesse nenhum porque são felizes. São felizes, são tontaços, não podem ter graça nem salvação. Senso assim muito dos desafortunados (a própria palavra tem um soar repelente, rimador de "javardo") vêem-se obrigados a fingir a dor que deveras sentem, só para poderem "brincar" com os outros meninos. É assim. Chega um triste ao pé de alguém e diz que não sabe se há-de ir beber uma cerveja ou matar-se. E pergunta, depois de ter feito o inventário das tristezas das últimas 24 horas: E tu? Sempre bem disposto, não?. O que é que se pode responder? Apetece mentir e dizer que o seu gato só falta falar, que sua namorada come na sua mão, que todos os que te conhecem estã

Uma Carta Definitiva

Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem,

As oportunidades que o impulso cria

O domínio de si próprio, embora eu não negue de forma alguma a sua necessidade em muitas circunstâncias, não é a melhor forma de conseguir que um ser humano se conduza bem. Tem o inconveniente de diminuir a energia e as faculdades criadoras. É como uma pesada armadura que ao mesmo tempo que impede o vosso braço de bater nos vossos vizinhos, o torna igualmente incapaz de um movimento útil. Os que não têm outro apoio além da disciplina que se impõem a si próprios, tornam-se obstinados e timoratos com receio de si próprios. Mas os impulsos aos quais eles não permitem qualquer saída, continuam a existir neles a tal como os rios represados, cedo ou tarde transbordarão. As forças a que nós contrariamos a função natural que é o desabrochar da nossa própria vida, ou se atrofiam ou acabam por ter uma saída perturbando a vida de outrem. Elas procurarão qualquer saída do gênero das que não representam nenhum perigo para nós, por exemplo, a tirania doméstica. Se essa saída não for suficiente, há o

Infernais são as muitas lembranças das quais é impossível se desfazer

O esquecimento não é só uma vis inertioe, como crêem os espíritos superfinos; antes é um poder ativo, uma faculdade moderadora, à qual devemos o facto de que tudo quanto nos acontece na vida, tudo quanto absorvemos, se apresenta à nossa consciência durante o estado da «digestão» (que poderia chamar-se absorção física), do mesmo modo que o multíplice processo da assimilação corporal tão pouco fatiga a consciência. Fechar de quando em quando as portas e janelas da consciência, permanecer insensível às ruidosas lutas do mundo subterrâneo dos nossos orgãos; fazer silêncio e tábua rasa da nossa consciência, a fim de que aí haja lugar para as funções mais nobres para governar, para rever, para pressentir (porque o nosso organismo é uma verdadeira oligarquia): eis aqui, repito, o ofício desta faculdade ativa, desta vigilante guarda encarregada de manter a ordem física, a tranquilidade, a etiqueta. Donde se coligue que nenhuma felicidade, nenhuma serenidade, nenhuma esperança, nenhum gozo pres