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Estupor ou só uma vírgula numa história sem começo e sem fim

... O que aconteceu é que apesar de ter sabido de tanto, de ter aprendido e apreendido tudo o que lhe era possível, esse saber lhe causou um desconforto e desalento enormes e ao mesmo tempo revelou o quanto ele não passava de uma criança que até certo momento, até pouco tempo atrás podia em cada atitude natural e vital continuar mantendo sua saudável ingenuidade em relação a tudo que existia no mundo, onde até o momento nada precisava ser exatamente real ou ter um nome ou outro pra poder ser diferenciado de uma coisa ou outra, o que bastava até o momento é que a coisa podia ser sentida e que enquanto o que se podia sentir fosse bom, com isso já tinha o suficiente pra evitar sentir o que fosse ruim. Mas era impossível voltar atrás, tudo agora já era um fato consumado, algo que por ter acontecido, já provocava reações diferentes. Nada agora podia ser previsto, por mais que o conhecimento que buscava fosse pra lhe dar o direito da previsão, na prática esse conhecimento novo lhe causava um desespero maior ainda de ser sentido, pois trazia consigo todos os outros desesperos que eram parecidos. Se até pouco tempo atrás a sua carga pessoal e ingênua de sentimentos e idéias de mundo não eram suficientes para lhe causar enormes rebuliços, agora já era tarde demais, pois tudo que não sabia agora já era sabido e por isso já interferia no seu organismo demasiado humano, dificultando mais do que facilitando cada gesto que pretendia, pois de agora em diante passava a colocar em cada pormenor, em cada gesto pequeno, cada detalhe minusculo, uma grandeza, uma importância completamente absurda. Tudo que havia buscado,tudo o que achava necessário ser compreendido na esperança de poder salvar sua própria vida acabou por leva-lo a cometer atos contra si mesmo. Tudo o que era disposição a aprender, agora tornara se um exercício estúpido de alcançar o esquecimento, tudo o que era falta, inversamente transformava em exagero e esse exercício começou a reforçar lhe alguns gestos até conseguir transformá-los em naturais, até que um dia tudo o que fez foi caminhar noites e dias pelo deserto na tentativa de livrar-se de tudo, até não poder mais sustentar seu próprio corpo faminto e sedento de ter outra vez sua antiga vida...

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Prisioneiro

Minhas mãos estavam sempre tentando te alcançar por que elas não se esqueciam de quem você era Mas minhas mãos sempre estiveram amarradas por nós que você fez pra me prender. Agora eu não quero permanecer seu prisioneiro Mesmo que pra isso eu tenha que feri-lo Por que me prender? Por que impedir os meus atos? Você têm que me soltar Têm que me deixar em paz.