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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

O criador sangra mas não sente dor. Daltônico que ainda é, sequer se intimida com o vermelho do seu próprio sangue.

O Criador era criança ainda quando certo dia (ou noite) inexplicavelmente de repente viu-se muito só. Não havia nada que pudesse livrá-lo do insondável tempo que o cercava, nada que pudesse distraí-lo de si mesmo no meio do seu silencioso nada. Então, naturalmente deixando-se contagiar por um estranho afã, o Criador decidiu inventar algo com que pudesse se divertir. A ideia lhe veio num salto, e ele então que não sabia evitar nada do que lhe vinha a cabeça, começou logo a criar um grandioso teatro. Ele era uma espécie de mágico quando algo lhe comovia e por isso mesmo sequer tinha que se pôr a pensar demais. Sendo assim, o Criador já foi criando tudo de maneira fervorosa e febril. Sua imaginação era tão criativa e clara que deixa mais do que claro porque ele se chamava O Criador. Na sua cabeça tudo ia surgindo tão fácil, tão em medida exata que desde os primeiros detalhes por ele imaginados sua alma já começava a se alegrar e produzir cada vez mais. Era uma alegria epopeic
Preferi cuidar de regar as flores que ainda mantenho por perto. Bem sei que até poderia ter inventado um regador bem enorme. Pra tanto bastaria que eu o desejasse muito, que me esforçasse o suficiente em criá-lo. E este regador poderia então alcançar muto mais longe. Contudo, não deixaria de haver um enorme problema também. Sozinho eu ainda me sinto incapaz de conduzir e de canalizar a força da água pra que esta alcance até lá, naquela flor bem distante que eu não tenho mais braços nem forças pra alcançar. Escolhendo então ser justo comigo e com as flores, rego as que ainda tenho por perto e não mato mais nenhuma que esteja distante. Nem por falta, nem por esquecimento, e muito menos por qualquer presunção de minha parte. Vou simplesmente aprendendo a cuidar das que estão aqui crescendo comigo, pra de passo em passo aprender a cuidar das flores que estão do lado de lá.

Ser Humano Devia Bastar

Quantos não foram os crimes praticados e que antecederam e moldaram todos os que acabam por se tornar criminosos? Quão presunçosos não foram os milagres que os santos jamais puderam realizar e então simplesmente os espalharam em falsos boatos de beatitude? Numa sociedade de santos jamais deveria surgir criminoso algum, numa sociedade de criminosos ser santo seria até pecado de tão impossível coisa que isto seria. Mas temo em dizer que entidades místicas como Deus e o Diabo não tem coisa alguma a ver com isso. A criminalidade também não é uma coisa inata, assim como a santidade não é. O que acontece apenas é que uma invenção não suporta a outra, então quando essas duas inventadas e desnaturalizadas concepções do homem, decidem por se atravancar em eterna luta, também até hoje insistem em ensinar suas gerações futuras a não abandonar tal estupidez. E por aí vai essa discórdia bestial e quotidiana que teima em tolher e domesticar os instintos humanos. Ora levando o então "dito crimin

Uma Desvirtuação Criminosa

O tipo do criminoso é o tipo do homem forte colocado em condições desfavoráveis, um homem forte posto enfermo. O que lhe falta é a selva virgem, uma natureza e uma forma de existir mais livres e perigosas, nas quais seja legítimo tudo o que no instinto do homem forte é arma de ataque e de defesa. As suas virtudes foram proscritas pela sociedade: os seus instintos mais enérgicos, que lhe são inatos, misturam-se imediatamente com os efeitos depressivos, com a suspeita, o medo, a desonra. Mas esta é quase a fórmula da degeneração fisiológica. Quem tem de fazer às escondidas, com uma tensão, uma previsão, uma angústia prolongadas, aquilo que melhor pode fazer, o que mais gosta de fazer, torna-se forçosamente anêmico; e como a única colheita que obtém dos seus instintos é sempre perigo, perseguição, calamidades, também o seu sentimento se vira contra esses instintos — sente-os como uma fatalidade. É assim na nossa sociedade, na nossa domesticada, medíocre, castrada sociedade onde um homem v

Sabedoria da Dor

O sofrimento não tem menos sabedoria do que o prazer: tal como este, faz parte em elevado grau das forças que conservam a espécie. Porque se fosse de outra maneira há muito que esta teria desaparecido; o facto de ela fazer mal não é um argumento contra ela, é muito simplesmente a sua essência. Ouço nela a ordem do capitão: «Amainem as velas». O intrépido navegador homem deve treinar-se a dispor as suas de mil maneiras; de outro modo, não tardaria a desaparecer, o oceano havia de o engolir depressa. É preciso que saibamos viver também reduzindo a nossa energia; logo que o sofrimento dá o seu sinal, é chegado o momento; prepara-se um grande perigo, uma tempestade, e faremos bem em oferecer a menor «superfície» possível. Há homens, contudo, que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo, mais belicoso, mais feliz do que quando a borrasca chega, que digo eu! E a própria tempestade que lhes dá os seus mais altos momentos! São os homens heroi