Num dissentimento nunca mais vou levar qualquer coisa apenas para o lado pessoal e insolúvel. Afinal, custou pouco tempo pra que eu tivesse me contagiado pelas coisas do mundo, pelo outros e passasse a revezar com estes, os inúmeros papéis que a vida nos dá todo dia.Depois que isso inevitávelmente acontece nem eu nem ninguém nunca mais é e nem nunca vai ser cem porcento si mesmo,todos se tornam uma mistura inexplicável de todos. Admitir isso é difícil e tomada de consciência de certas coisas está reforçando em mim um raciocíno muitas vezes doloroso. Ao mesmo tempo que passo a tolerar mais o que costumava achar intolerável, o que era pra ser compreensível tem se tornado praticamente insuportável. Aí então na procura de alívio, muitas vezes só o álcool me faz reconhecer o quanto a água é mais importante. Isso deve ser um péssimo hábito de tortura, um esvaziamento provocado, calculado pra criar a possibilidade de ecos infinitos aos sentimentos mesmo sem continuar sabendo o que fazer deles.
Eu nunca deveria ter saído da roça. As pessoas na roça são brutas eu sei, mas elas conseguem manter uma simplicidade enorme também, mais fácil de compreender. Nas cidades isso já é bem mais difícil, é uma variedade tão grande de gente pra conviver, entender. Nas cidades as pessoas se tornam bem mais complexas, e eu que vivendo entre tantas pessoas deixei colocarem informação de tudo quanto é espécie dentro da minha cabeça. Deixei despejarem dentro dela como se esta fosse um liquidificador, depois, quando a cabeça triturou, liquidificou, misturou tudo e serviu pra alguém beber, todos os copos já estavam cheios e todos ou já estavam enjoados ou já estavam satisfeitos.
Acho que ninguém quer conhecer por inteiro a maioria das pessoas que acredita que conhece e paga-se caro quando se conheceu alguém realmente por inteiro, com toda as partículas do mundo respirando alí juntas. Quando isso acontece, quando se pôde conhecer alguém em toda a sua essencia, acaba-se por amá-la ou odiá-la e esses sentimentos opostos podem ser exatamente a mesma coisa, mas é mais fácil odiá-la do que correr o risco de sentir por esta um amor trifásico e por isso acabar sendo eletrocutado de tanto amor e ter de morrer sozinho do mesmo modo que chegou sozinho no mundo pra ir se misturando aos outros pouco a pouco. Há uma saída pra evitar isso,pra evitar essa morte estúpida e injusta. E há uma saída ainda pra evitar o ódio ou pra não demonstrar a covardia de não suportar mais sentir a outra pessoa,não precisar percebe-la com todo o seu amor trifásico e eletrocutador. A saída é desprezá-la, com toda a frieza tornar-se indiferente a ela, como alguém que diante do espelho ignora uma parte do próprio corpo que desagrada. Como alguém que não pode pagar uma cirurgia plástica pra modificar essa parte que não gosta e então aprende a ignorá-la pra não precisar amputá-la. Sim, este seria o último recurso, pra não chama-lo de crime. Este porém apesar de ser um crime ocultável, será ainda o crime maior e mais imperdoável ao próprio criminoso e o sentimento de culpa sem culpa nenhuma vibrará em cada partícula do corpo como um tratamento a base de choque.
Sobre a liberdade de expressão: Nada do que sei é meu, nem mesmo as lembranças que guardo em minha mente e coração. Isso pra mim é algo tão certo, como estou certo de que vou parar de pensar logo que meu coração parar de bater. Mesmo assim, posso fazer uso do que eu bem entender que possa pra mim trazer algum prazer ou alívio de viver.
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