Queria tanto que pelo menos por uma única vez eu soubesse escrever algo que um dia se aproximasse ou equivalesse a aquela pena tão carregada de tinta que apesar de tudo ainda se deita, dança e se esparrama sobre o papel para a mesma escrita aconteça. Queria e muito, mas admito que eu mal sei por onde devo começar. Melhor terminar logo com tudo isso? Antes que eu me atrapalhe e me arrebente ainda mais? Mas terminar com isso como? Se até pra esta escrita tão barata, tão rasa e sem estilo como costuma ser a minha, não há nem mesmo fim algum. Não tem pretexto, falta contexto e isto prova que esta mesma certamente não irá me ocorrer por mais que eu insista em convocá-la pelo simplacheirão nome de “Texto”. Nome esse que inclusive, eu lhe dei por estar repleto de despeito, e acabei também achando que talvez esse fosse o mais cabível e pior nome que eu teria a competência de lhe dar . Texto que agora, por mais que eu conclame, eu profane ou grite por ele ainda mais, vira-me as costas; vira-se em páginas atrás de páginas, cada vez mais carregadas de um vazio obscuro e branco. Vazio também ofuscante e obsceno, que não há nem mesmo meios de tentar mimosear.
Mas ora essa! Mas agora vamos combinar! Ainda estou longe de poder sentir-me tão letrado ou tão conceituado assim a ponto de pensar que poderia me tornar poeta. Toda vez que é chegada a minha hora e o momento crucial, me sinto aquém até diante da pior espécie de cultista ou falastrão. Sim é verdade, estou cru! E ainda por cima, cada vez mais me vejo mais como um escravo acorrentado, como um animal indesculpável e insignificante feito tantos outros que já houveram e quiseram muito mais do que apenas (d)existir ou só viver perambulando a procura de migalhas esquecidas por aí. Uma espécie de não-ser, que insistindo em quase-ser, ainda continua sendo ser dos mais indignos. Uma criatura estranha, inescrupulosa e impiedosamente obrigada a ignorar-se e a calar-se, por mais que ainda estivesse consciente de que é indubitavelmente sua a carcaça presa ao tronco e a esperar pelo chicote. Franzindo-se e fremindo-se sem intervalo algum entre as lapadas. Espremendo-se... Quanto maior é o seu açoite, cada vez mais se torna“nada”.
Morte, morte, morte...Cadê tu que sempre foi tão competente? Por que faz tanta questão em adiar-se e não revela logo pelo menos, quando e onde vai terminar essa minha tamanha falta de postura e de sorte? Não vê que por mais que eu lhe declare o quanto sou incompetente, enquanto eu tiver que permanecer aqui, de uma forma ou de outra eu vou precisar continuar agindo feito um Zé-ninguém. Mesmo que apesar do muito ou de tanto nada, eu jamais consiga discordar da lentitude de minha própria crosta espúria, esquelética e esquálida.
Que a cada dia inevitavelmente torna-se mais e mais insuportável.
Alma perdida, super exposta e cada vez mais indefesa.
A luz do sol e dessa vida às vezes queima, ainda mais quando se está perante ambas e ainda não se aprendeu a descrever ou a lidar com o que elas são.
Talvez tudo não passe de uma hipérbole irreduzível.
Talvez lá no fundo, acho que eu só queria que tudo isso não parecesse com algo tão ridículo e trágico,
Acho que o que eu sempre quis mesmo é que tudo isso pudesse ser por uma única vez só um pouquinho menos doloroso e cômico.
Sobre a liberdade de expressão: Nada do que sei é meu, nem mesmo as lembranças que guardo em minha mente e coração. Isso pra mim é algo tão certo, como estou certo de que vou parar de pensar logo que meu coração parar de bater. Mesmo assim, posso fazer uso do que eu bem entender que possa pra mim trazer algum prazer ou alívio de viver.
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