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Não há traços, nem cor, nem o conjunto destes em pintura nenhuma que possam tornar mais sagradas as visões que eu tenho de tudo.
Pois tudo pra mim é tão intangível as vezes quanto qualquer representação que eu possa fazer deste mundo.
Não há ruas, nem construções e nem transeuntes sequer que me pareçam menos pesados aos olhos nas vezes que saio vagando sem rumo .
E ainda assim todo o asfalto se estende, os tijolos se erguem e os que estão só de passagem caminham cada vez mais reclusos.
Não há olhar, palavra ou um sorriso que possam quebrar este gelo que antes de imobilizar meus sentidos, um dia assim como a água teria sido mais fluido.
Pois tudo o que aqueceu demais, um dia, depois virou febre e esta agora é preciso evitar-se mesmo com tanto descuido.

Não há mais uma nota, acorde ou sinfonia qualquer que soem tão altas e ininterruptas quanto os ruídos e uivos que ouço das almas noturnas, sem lar.
Pois no silêncio da noite, já muito antes da aurora, a ansiedade aumenta e tudo o que me atormenta apenas segue a tendência que tenho de exagerar.
Não há mais um trago, um gole ou dose que me pareçam suficientes quando a única coisa que eu posso, que me resta ou que eu sei fazer é me lamentar.
Pois sei que também fazem parte de mim, tudo o que aqui eu descrevo e tantas vezes não reconheço que está apenas no modo que tenho de olhar.
Não há nada que me pareça exato, pois sei que nem mesmo os meus atos se tornam claros pra mim, com tanta coisa ruim eu teimo em não apagar.
Eu sei que compete a mim decifrar tudo que só quis me ensinar, quero fazer isso e aliviar o peso que sozinho eu aumentei, e de uma vez por todas me libertar.
sem ter com oque me preocupar.

Mas o que ainda há lá no fundo ,no âmago tão retraído, entranhas, coração, na essência, no íntimo, em tudo isto que insisto e repito que ainda de certo modo eu devo em mim preservar?
O que se perdeu na distância, infância, que um dia foi só de esperança e que esvaiu-se pela torneira aberta ou ferida que mesmo discreta tanto de mim fez jorrar?

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