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Bem perto e também tão distante


Tem muita coisa que brilha no céu que não tem luz própria, não tem calor, que não determina a órbita dos planetas e que assim sendo não deve ser uma estrela. Porém aos nossos olhos tem muita coisa que existe e que ainda assim é brilhante. Muitas vezes o brilho que mais atrai nossos olhos é de um pedaço de rocha, corpo celeste flutuando e vagando sem rumo no espaço e que apenas reflete o brilho do sol, mas esta, ainda sendo uma rocha, é matéria, tem sua essência e carrega consigo informações importantes sobre sua origem, composição, idade e ainda assim pode ser que possua a mesma matéria da qual somos feitos. Deve haver certamente alguma coisa determinando a existência de cada grão de poeira, cada coisa-asteróide imensamente interessante. Então por mais que as vezes não possamos vê-las, lá estão elas. São corpos celestes que seguem cumprindo uma existência solitária, impelidos pela gravidade e a ressonância egoísta que lhes é imposta pelos planetas. Já outros, são corpos que descobriram um dia um ponto de equilíbrio, compuseram uma família e assim existindo, giram um em torno do outro por um tempo que não sei se é infinito mas que lhes valerá certamente o tempo que vão durar. Ah mas eu também preciso falar sobre aqueles corpos, poeira interplanetária, grãos de matéria condensada, partículas microscópicas, aglomerados de matéria deixada pela colisão de rochas maiores, restos abandonados e rastros de cometas que foram embora, seguindo seu rumo, sua órbita ou destino que os faz constantemente girar em círculos. Pra ser um pouco mais simples, quem sabe essa poeira estelar seja apenas as sobras a que tanto chamamos de estrelas cadentes, nascidas pra se deixarem levar por uma força que é maior que a delas, e que muitas vezes resumem sua existência numa colisão incandescente e excitante mesmo sem terem a certeza de que irão conseguir atingir a superfície que foram atraídas a tocar. Pois a maioria delas evapora completamente enquanto penetra a atmosfera, só que ao menos sabem que em algum lugar, alguém pisando a terra lá embaixo arrepia-se, chora, faz promessas e até espera realizar sonhos ao observar essa cinemática suicida.
É, de algum modo, nesse momento aquele corpo incandescente enquanto vai se esvaindo no ar, é como se fosse a última moeda que muitos não pensariam duas vezes antes de prescindir e então jogar no fundo de um poço dos desejos pra que depois de terem os seus pedidos feitos com fé, veem ela desaparecer na incerteza da escuridão. E a moeda atirada então cai como uma estrela cadente, periclitante e pungente.
Mas será que ao nos aproximarmos da rocha ou pedra celeste que tocou o chão ainda iríamos compreender sua superfície petrificada? Não será sua matéria densa e que de perto é opaca que deu a ela o brilho que tinha de longe e que fez dela aquilo que podíamos ver e que tanto nos atraía? Por que então que ao nos aproximarmos de seres de brilho irradiante e que um dia por esse motivo nos chamaram tanto a atenção nem sempre compreendemos o casco simples e indispensável que a vida os deu?

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