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Ódio Fecundo

Odeio essa história que inventaram e que já convenceu muita gente de que é preciso existir o Estado para governar as pessoas. Odeio que as pessoas depositem nas outras o poder e a responsabilidade de fazer escolhas que deveriam ser constantemente feitas por cada pessoa. Odeio que acreditem existir altruísmo suficiente a ponto de que isso leve alguém a se responsabilizar pelo outro em troca de nada. Odeio o fato das pessoas não fazerem nada pra demonstrar aquilo que pensam e por isso tantas e tantas vezes permanecerem caladas. Odeio que por causa daquilo que pensam ou sentem as pessoas ignorem o que está evidente ou que pra outra pessoa não representa nada que seja relevante. Odeio os sorrisos falsos e convencidos daqueles que se dizem bondosos, que acham que são os melhores e por isso acham que sabem o que é melhor para os outros. Odeio ver tantos desses sorrisos,assim espalhados em tantos rostos. Eu odeio o fato de ter que odiar tanta coisa, odeio esse ódio ou raiva ou ira ou cólera ou indignação ou fúria ou aversão inveterada que só podem ser naturais e certamente só com muita dessa palhaçada de Estado e de governo e de entretenimento barato e de ração cancerígena de cada dia que eu também ignoro mas engulo pra acalmar todo o ódio que está calado, abafado, escondido em mim e em tanta gente se mantendo em desuso. Gente incapaz de usufruir de si mesma, que desconhece a sua subjetividade e que não se da conta da própria existência. Eu odeio quando quero muito do outro e acabo esquecendo o que tenho guardado aqui dentro. Eu odeio esse ódio que alguém agora mesmo pode estar sentindo bem no fundo do peito e que está andando por aí, que foi mal compreendido e por isso se sente um perdido no mundo. Alguém que sabe que muitas vezes não pode ser auto-suficiente mas que nem por isso outras tantas vezes deveria odiar e impedir a si mesmo de ser fecundo.

Só resta agora você também começar a me odiar se eu tentar me prolongar pra poder esclarecer todo o ódio que sinto nem que fosse por só(mais) um segundo.

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