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Miopótamo Cefalópode

Olha, não sei dizer muito bem o que é isso, mas prometo que logo que souber exatamente como definir esse bicho, eu juro que vou dizer.
É que na verdade mesmo, esse bicho não existia. Não assim, desse jeito. Só lembro que eu tive um desejo muito espontâneo e que então precisei criá-lo.
Mas tem sido difícil criar as coisas, por que no caso desse bicho, ele sequer sabia que existia até que eu conseguisse descrever todas as qualidades que ele tem.
Ele passou a ter olhos só depois que eu os imaginei e só soube que seria míope, depois de eu ter lhe colocado esses óculos enormes.
Ele notou que tem um brilho nos olhos que até lembram faróis, mas isso ele se pergunta até agora porque tem.
Ele rói as unhas mas acha que nem por isso deveria ter um nome de roedor, na verdade ele achava que Miopótamo se referia apenas a miopia exagerada de seu próprio cria(r)dor.
Ele agora percebe que sua cabeça é muito grande e que a maior parte das vezes mal consegue controlar os tantos membros que recebeu, mas ele sabe que apesar de existirem muitos tipos como ele, ainda existem muitos que mesmo assim o apreciam, com a mesma vontade com a qual ele nasceu que é a devorar o mundo. Por isso ele não se conforma com o tamanho da boca que recebeu, que parece que mal conseguirá se abrir no meio de tanto rosto ou que só serviu mesmo pra enfatizar a timidez de quem lhe concebeu, ainda que visto de perto ele se pareça meio cenhoso.
Sei que ele nunca vai aceitar que seu sobrenome tenha que ser Cefalópode e talvez é por isso que hoje em dia ele insista em criar toda essa cefalalgia. Coitado. Só porque passou a existir, esse bicho estranho e com nome arbitrário agora acha que pode. Daqui a pouco só me falta ele achar que diante desse mundo que ele tão pouco conhece, que ele vai ser capaz de escolher como deve ou não se sentir.

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